4.0 out of 5 stars
Um épico ecológico
Reviewed in Brazil on 4 August 2018
Em THE OVERSTORY, atualmente um dos livros da longlist do Booker Prize/2018, Richard Powers não mira em minimalismos. Desde o tamanho do romance com suas mais de 500 páginas até o escopo de personagens e situações, tudo grita Épico! E isso é, possivelmente, sua grande qualidade e sua limitação. Nem sempre uma história protagonizada por árvores consegue lidar com a grandiosidade, há momentos em que o intimismo é necessário.
Geralmente, romances com temáticas ambientalistas – especialmente aqueles que querem falar sobre a degradação do ambiente – se ternam facilmente distopias. Aqui, o tom é totalmente realista com uma urgência do presente. O romance fala pelas árvores por meio de seus 9 protagonistas, cujas tramas eventualmente se cruzam ou não. Com tanto personagem é impossível manter o mesmo nível, e alguns deles e suas histórias são mais bem resolvidos do que outros.
O romance começa com uma família de imigrantes noruegueses que se mudam para os Estados Unidos, no século XIX, e levam consigo sementes de castanheiro. Uma delas vinga e se transforma numa grande árvore que é fotografada por um membro da família todo ano num mesmo dia do mês de março. A tradição passa para seus descendentes, mesmo que sua fazenda sofra com a modernização, e deixe de ser o que era.
A evolução humana – social, cultural, econômica, política... – é pensada aqui por meio de árvores, pela forma como elas se transformam. E também pelas mudanças e avanços tecnológicos – o que, como se sabe, nem sempre terá um caráter positivo. Os personagens, de uma maneira ou outra, sempre se relacionarão com árvores. Formalmente, Powers se interessa como um romance pode ser narrado a partir do ponto de vista não-animal. Como focalizar a narrativa pela percepção das árvores?
O primeiro capítulo, no qual, em poucas páginas acompanhamos a evolução de uma família por meio de diversas gerações, em sua fazenda no Iowa, é exemplar. Isso, paralelamente, às fotografias anuais acompanhando a evolução do castanheiro. Mas o narrador não deixa de perceber que “tudo o que um ser humano chamaria de *história* [story] acontece fora da moldura da foto.” The Overstory está interessado naquilo que acontece, porém, dentro do quadro da foto, assim humanos e suas emoções, sentimentos e afins são secundários. É original e corajoso o que o autor faz, mas nem todos os segmentos funcionam muito bem. O retrato dos ecoativistas, por exemplo, não escapa muito dos clichês – mas, nesse caso, talvez não seja exatamente culpa de Powers.
Se a relação entre tecnologia e humanos é questão nos romances do autor, aqui, ele traz uma nova variável à equação: árvores. O resultado pode ser desigual, mas sua ambição é bem vinda e memorável, na maioria das vezes.
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